quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Análise Filmes: JCVD: O Filme (JCVD - 2008)

Comentário completamente off: eu sei que estou há MESES sem postar nessa budega, mas tem alguns filmes que não dá apenas para comentar com seus amigos e etc. Existem uns filmes que gosto de desabafar, seja pra bom ou pra ruim. A melhor maneira disso é postando no meu blog (quase) abandonado de filmes.

Então se você lê essa porra, não se anime demais. É só de vez em quando =P

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Título brasileiro: JCVD: O Filme
Título original: JCVD
Ano: 2008
Gênero: Comédia / Crime / Drama
Tipo: Filmes
Duração: 96 minutos (1:36)
Site do IMDB: http://www.imdb.com/title/tt1130988/
Nota do IMDB:
7.7/10 (3800+ votos)

“É tão estúpido matar pessoas. A vida é tão bonita”

Antes de me xingar de tudo quanto é palavra por ler algo que não deveria, recomendo que leia as Regras dos Spoilers.

Nunca fui fã de Jean-Claude Van Damme. Muito pelo contrário, na verdade ele para mim está no mesmo patamar de Steven Seagal, Chuck Norris, Silvester Stallone e muitos outros atores de filmes tipicamentes de ação. Ou seja: ignoro completamente todos os filmes de tais atores.

Então você deve estar se perguntando: qual é o motivo de ter assistido JCVD?

Bom, vamos do começo: um belo dia frio com um sol que só servia para iluminar o ambiente eu estava ajudando meu primo na reforma da casa que ele comprou há algum tempo atrás e ele me falou: “Igor, você já viu o novo filme de Jean-Claude Van Damme?” e eu falei logo: “Não, mas não me interessa. Afinal é Jean-Claude Van Damme. Não tem muito o que esperar.”. Daí ele comentou que parecia um filme diferente (ele ainda não tinha assistido) e que a nota do IMDB era muito boa.

Eu que não tinha o menor interesse de ver, já passei a ficar curioso. Pesquisei o nome no IMDB e me deparo com um filme de nota 7,9 (atualmente 7,7) e que tinha como gênero Comédia e Drama (isso foi o que mais chamou atenção). Era impossível acreditar que Van Damme tinha um filme com nota 7,9 e ainda mais de drama. Era justamente esse “ver para crer” que me chamou mais atenção ainda para ver o filme.

Consegui o filme, mas passei um tempo com ele sem vê-lo. Até que na manhã congelante de natal, estava intocado em casa e sem muito que fazer (teria ceia mais tarde, mas pela manhã não havia nada pra fazer), fiz dois pacotes de pipoca de microondas, peguei um copo grande com coca-cola e resolvi finalmente assistir JCVD.


“Não o cumprimente, apenas tire uma foto.”


Não tinha lido nada sobre ele e fui descobrindo que Van Damme atua como ele mesmo na obra cinematográfica. Ou seja: um ator que ficou famoso há muito tempo atrás com películas como “O Grande Dragão Branco” e que ultimamente só fazia apenas filmes “B”. Tinha sumido da mídia e o único motivo de fazer tais filmes era apenas para sustentar sua esposa e filha. Por falar nelas, ele estava lutando na justiça para reaver com a sua filha (isso é mostrado no início do filme), mas que a própria filha não quer ficar com ele (diz claramente que não quer ficar com o “papai” porque sempre quando ele aparecia na TV, seus colegas tiravam sarro dela. Como se não ficar com o “papai” resolveria isso).

Depois de perder a filha, Van Damme resolve voltar para a Bélgica para começar tudo de novo (para quem não sabe, Van Damme é belga e foi pros states quando ainda era jovem). Nessa ida a Bélgica ele acaba indo para um posto de correio em Bruxelas por algum motivo e depois de um tempo um tiro passa perto de onde ele está. Um policial que estava no lugar resolve averiguar o que foi e se depara com Van Damme na janela de tal posto falando: “Afaste-se! Saia daí!”. Quando chega mais perto do posto de correio, acaba sofrendo vários tiros não se sabe de quem e consegue sair com apenas um tiro na perna. Pega o rádio do seu carro e diz: “Preciso de reforços, Jean-Claude Van Damme está roubando o posto de correio”.


Agradeça por ter saído vivo. Tem muita coisa pior pela frente


Esse é apenas o início do filme. Não considero como um spoiler, mas sim como uma sinopse, porque é essa a estória. É nisso que o filme se foca.

O tema é exatamente esse. Na minha opinião é bem simples e nada de criativo. Apesar disso tudo é muito melhor que todos os outros filmes dele para mim. Um ponto positivo.

Mas o interessante do filme não é o tema. Logo de início você descobre que o filme não é linear. Se você não souber o que é um filme linear, é aquele que é contínuo, ou seja: a ordem sempre é início, meio e fim. “Mas todos os filmes não são assim?”, não. Quer dois bons exemplos de filmes não lineares? “Cidade dos Sonhos” (Mulholland Drive – 2001) e “21 Gramas” (21 Grams – 2003). O filme é MUITO rápido no início, mas depois volta e explica parte do que aconteceu naquele meio tempo para depois continuar de onde parou. O recurso de um filme não ser linear tem que ser utilizado de uma forma muito boa para você não ficar confuso, senão você nunca irá saber se aquilo vem antes ou depois e acaba se perdendo. Felizmente JCVD utilizou esse recurso de forma simples e dá para identificar facilmente quando um e outro evento ocorrem. Uma das formas utilizadas pelo diretor foram frases já ditas antes como uma conversa de telefone que você acompanha o comissário de polícia falando com Van Damme, mas só a visão do comissário. Em outra parte do filme mostra apenas a visão de Van Damme falando a mesma coisa mostrada antes.

Outra coisa que não é nem um pouco esperada e foi bem interessante de se ver: todos os atores atuando muito bem. Sem exceção. Van Damme é o destaque, não apenas por ter atuado como um profissional, diferente de quase todos os seus outros filmes, como também por ser algo novo, afinal, você não está acostumado de ver Jean-Claude atuando. Algumas ações foram dignas ao menos para um prêmio qualquer de melhor ator e não duvido que esse filme acabe ganhando algo (se é que já não ganhou).

Além da atuação dos personagens, todos tem suas personalidades, o que é um ponto BÁSICO de um filme, mas por algum motivo a maioria dos filmes atuais, sejam eles ruins, razoáveis ou bons, normalmente definem por colocar um personagem carismático para suprir a falta de personalidade dos outros. Funciona? Sim, funciona. Mas é algo improvisado. É como você abrir uma lata de refrigerante sem querer e para não escapar o gás, fazer o ato clássico de colocar uma colher na tampa. Inclusive os três personagens principais após Jean-Claude se baseiam por: um homem de 30 anos fã de filmes de karatê (e de Van Damme), um maníaco que não está preocupado com o que precisa fazer para se dar bem e um homem facilmente convencido pelo que Van Damme fala e que quer se dar bem da melhor maneira possível sem prejudicar os outros. Além de outros personagens como um descendente árabe com complexo de inferioridade em relação a sua descendência e um comissário que o único motivo de estar no caso era justamente para fazer a sua fama, afinal Van Damme estava envolvido.

O diretor também corta as cenas normalmente com uma frase filosófica e uma delas é de Shakespeare (não sei quanto as outras), que é a de baixo:


“O tempo e a hora passam através do pior dia...

...e tudo passará”

Van Damme e Shakespeare! Quem diria.

O aproveitamento do tema também tem de ser admirado. O tema é simples, mas foi bem desenvolvido e te prende do início ao fim. O diretor utilizou recursos como eventos imaginários (eu comentei na crítica de “Vanilla Sky” que eventos imaginários têm como principal característica deixar o espectador em dúvida se tal coisa aconteceu ou não. Se for utilizado de forma branda, deixa o filme bastante interessante. Se for utilizado de forma exagerada, ou tem de ser bem desenvolvido – ou explicando ao decorrer do filme – ou vai acabar tornando um filme de “genial” para um “fracasso”) poucas vezes, mas todas as vezes foram bem utilizados.

Além das características que mais chamam atenção que acabei de citar (atuação, personalidade, tema bem aproveitado), o filme conta com um “visual” diferente. Se você não fizer uma pesquisa no IMDB e não conhecer Van Damme (ou seja: ter vivido numa bolha desde os anos 80) você pode se atrapalhar com o ano do filme. Em melhores palavras: ele não parece um filme do século 21, mas um dos anos 80. Não sei o motivo do diretor ter destacado isso, mas na minha opinião ficou algo bom, diferente e criativo.

Uma das partes mais marcantes do filme é uma em que JCVD faz um monólogo. Nesse monólogo ele mistura a realidade e a realidade do filme (de uma forma bem branda, tanto que não tem como você atrapalhar). Nessa parte ele comenta o sacrifício que fez para virar um ator famoso e que não gostava de ver pessoas que tem tantas ou mais qualidades que ele em pior situação. O mais marcante desse monólogo não é apenas o que ele fala, mas sim COMO ele fala. Ele mostra que está revoltado, mostra que está chateado, mostra que está desesperado e etc. Uma das partes que mais requer atuar, e Van Damme não deixa pra menos.


“Mas ainda hoje eu me pergunto: o que eu fiz nessa terra?

Nada! Não fiz nada!”

No final de tudo, o diretor ainda usa o recurso de evento imaginário novamente, mostrando como tudo terminaria se fosse um filme normal de Van Damme (pelo menos eu interpretei dessa forma) e logo depois mostra o que aconteceu na realidade. Foi muito bem feito e mostra que nem sempre as coisas são felizes (e mentirosas) e como é dura a vida real. Na foto abaixo você pode perceber como o diretor utilizou o recurso de “clarão” como se desse a impressão de que: “Acabou. Tudo acabou bem. Ninguém saiu ferido. Nosso herói Van Damme nos salvou”.


“Van Damme! Van Damme! Van Damme!”

O final, para mim, deixou a desejar, mas não chega a ser ruim. O caso é que não combina com o filme. É muito “feliz”.

Mas concluindo esse longo texto:

“JCVD” é um filme que deve ser visto por todos. Seja você fã ou não de Van Damme, simplesmente deixe para lá todo tipo de preconceito sobre Jean-Claude e assista como se fosse um filme qualquer com um ator desconhecido.

No final das contas você não irá se arrepender e terá visto um ótimo filme.

Basta Jean-Claude Van Damme continuar nessa safra de filmes e ele terá todo um passado ruim apagado facilmente como se estivesse escrito a lápis. Atuar ele provou que sabe, falta a valorização. Isso só é conquistado depois de uma série de sucesso.

“I put my trust in you”
Joy Division – A Means To An End


Estrelinhas copiadas e editadas descaradamente do IMDB

See you next time!

Igor

Um comentário:

Anônimo disse...

Assisti este filme no lançamento e fico indignado até hoje por não ter sido reconhecido o filme e o talento do Ator. Belas critica, gostaria que tivesse escrito mais sobre a parte filosófica do ¨ESTAR CIENTE¨ que ele menciona.